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Archive for Setembro, 2007

Uma publicação de todo inesperada da editora mais inesperada.

Quicksilver, o romance de Neal Stephenson, acaba de ser lançado nas livrarias portuguesas pela editora Tinta da China, sob o título Argento-Vivo. Numa edição de excelente qualidade, eis que chega o I volume do Ciclo Barroco, constituído por 8 volumes (originalmente publicados em três livros).

O autor norte-americano, natural de Maryland, EUA, provém de uma família de cientistas e engenheiros que estimularam a sua vocação para as ciências. Começou a escrever nos anos 80, mas foi apenas com a publicação de Snow Crash, em 1992, um dos mais importantes títulos a epitomizar a cultura cyberpunk, que o autor se tornou popular no género da ficção científica.

Argento-Vivo narra a história do protagonista Daniel Waterhouse, no tempo da Restauração da dinastia Stuart em Inglaterra, no séc. XVII. Daniel é um amigo de Isaac Newton e assiste às espantosas transformações que se operam na sua época onde uma nova forma de pensamento começa a ditar as regras, abrindo passagem à era da ciência.

A erudição, o rigor e a imaginação de Stephenson tornaram o Ciclo Barroco uma das mais interessantes séries de romances histórico-alternativos, compondo um ambicioso retrato sobre o nascimento da ciência.

O Ciclo Barroco é constituído pelos romances Quicksilver, The King of Vagabonds, Odalisque, Bonanza, The Juncto, Solomon’s Gold, Currency e System of a World. Existe também o livro Cryptonomicon, cujos acontecimentos incidem em eventos do séc. XX.

O romance histórico-científico que, com personagens como Leibniz e Newton, reconstitui o nascimento da ciência moderna. Um romance extraordinariamente rico, divertido e infinitamente imaginativo que confere vida plena aos acontecimentos mais significativos de uma época histórica notável.

Neal Stephenson, Argento-Vivo, Tinta da China, P.V.P.: 22.41 €

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O primeiro volume de uma saga de fantasia é sempre especial. Para além da óbvia função de introduzir pela primeira vez um leitor num universo com regras específicas e totalmente distanciadas do mundo real que conhecemos, é o livro que conserva um sentimento de nostalgia para o leitor interessado. Nostalgia pelo passado da história que estamos a ler, pois ela já avançou bastante no futuro. E nostalgia também por aquele prazer da descoberta aquando a primeira leitura. Claro que isto só é válido para os que se deixam seduzir pelo contador de histórias em questão.

Quer isto dizer que o primeiro volume é sempre aquele em que revemos as personagens e enredos numa posição ainda de inocência e descrença pelas circunstâncias em que subitamente se viram forçados a enfrentar. Todos os inícios são pautados pela inocência. E isto é ainda mais verdade em O Olho do Mundo de Robert Jordan.

 

Após 11 volumes, é difícil recordarmo-nos de como as personagens viveram antes de conhecerem a verdade sobre elas próprias, a verdade de que há mais coisas no céu e na terra para além dos limites da comunidade rural e que, subitamente, os elementos das trevas que eles julgam existir apenas em pesadelos ou histórias de velhas tontas, materializam-se bem no limiar das próprias casas.

Mas passemos à história em si. Existiu uma antiga guerra. Uma guerra tão fatal que quebrou o mundo e dispersou os povos em ruínas. A batalha deu-se entre as classes mais poderosas, os Aes Sedai. Homens e mulheres com a capacidade de manipular o poder cósmico que gira a Roda do Tempo. Se são suficientemente afortunados para nascer com esse talento inato, crescem e são treinados para se tornarem Aes Sedai.

Alguns juraram servir o campeão da Luz, encarnado em Lews Therin Telamon, o Dragão. Outros traíram os seus pares e aliaram-se a Shaitan, o Destruidor. O prólogo de O Olho do Mundo narra os finais acontecimentos dessa guerra e como Lews Therin Telamon sucumbiu à loucura causada pelas suas próprias mãos. Ao aprisionar Shaitan, o contra-ataque do Senhor da Escuridão manchou a parte masculina do poder da Roda do Tempo. E assim todos os homens Aes Sedai enlouqueceram e a destruição que causaram com a sua insanidade foi a que arrasou o mundo.

Este é o background mitológico essencial que dinamiza todo o enredo de A Roda do Tempo. A criatividade envolvida na construção deste corpus mitológico é um dos factores que deve servir de avaliação da qualidade de qualquer saga de fantasia, e posso dizer que o autor criou algo de singular e irrepetível, exclusivo apenas ao nome Robert Jordan.

O escritor descreveu os seus heróis masculinos como destruidores, temidos mais do que tudo pela Humanidade, e o modo como, três mil anos depois, ainda são temidos, afecta todo o enredo. Profecias indicam que Thelamon, o Dragão, irá reencarnar num novo paladino da Luz, mas ninguém deseja uma nova confrontação que irá trazer os ventos de Tarmon Gai’don, A Última Batalha.

No entanto, o destino começa a ditar as regras e, um dia, Moiraine Sedai chega a uma pequena vila onde descobre três jovens rapazes. A sua busca, que já durava há mais de vinte anos, chegara ao fim e sabia que um desses rapazes se iria tornar o homem mais temido e odiado do mundo, a reencarnação do Dragão. Era importante manipulá-lo e submetê-lo à vontade da classe feminina Aes Sedai.

É o encontro de Moiraine Sedai e Lan, o seu guarda, com Rand Al’Thor, Perrin Aybara, Matt Cauthon, juntamente com Nynaeve Al’Meara e Egwene Al’Vere que inicia a saga A Roda do Tempo e transporta-a muito para além da pequena vila, cruzando muitos reinos, muitos povos, muitos perigos, muitas verdades e traições, muitas mentiras e confrontações, muitas alianças e paixões.

Cada personagem pertence a uma terra com traços sociológicos e culturais distintos e a atenção aos detalhes enriquece a trama e dota-a de descrições aprofundadas e vívidas. Os mitos e a História fundem-se e todo o passado renasce de novo, tornando importante a tarefa de preservar esse legado histórico e mitológico. Nunca esquecerei quando descobri pela primeira vez a história de Lan, o companheiro de viagem de Moiraine, the Uncrowned King of Malkieri. Ou quando Moiraine revelou aos aldeões de Two Rivers o seu passado histórico, uma história de bravura e resistência quase inteiramente esquecida.

Rand é uma personagem ainda demasiado inocente neste livro, tentando escapar ao seu destino, recusando-se a aceitar a verdade. É um pobre camponês em cujas veias escorre o sangue de reis e guerreiros, mas ainda irá levar tempo até aceitar a inevitabilidade do seu destino.

Até lá, deixamo-nos levar pelas suas aventuras e a dos seus companheiros, liderados por Moiraine, a Aes Sedai sempre ambígua e nunca de total confiança. Matt Cauthon é o comic-relief da série, Perrin Aybara é um bom rapaz, mas atormentado por coisas que não consegue ainda compreender. Egwene e Nynaeve, a seu tempo, irão ascender em poder e influência, tornando-se peças vitais no tabuleiro.

Em O Olho do Mundo temos o primeiro vislumbre, mas ainda nos seus primórdios, da arquitectura épica que ainda está para vir e que atingirá a força total no 4º volume, A Sombra Alastra, esse sim, um épico em todas as palavras. Conheceremos ainda muitos povos e os seus costumes, e cada um terá uma importância que Rand não poderá ignorar.

Para quem gostaria de ficar a conhecer um pouco melhor da verdadeira fantasia épica, Robert Jordan é leitura obrigatória.

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Robert Jordan [1948-2007]

A fantasia épica ficou mais pobre no passado dia 16 de Setembro com o falecimento de Robert Jordan, o autor do best-seller internacional, a saga A Roda do Tempo.

Há mais de 1 ano, em Março de 2006, o autor anunciara no site da Locus que lhe fora diagnosticada uma doença rara, Amiloidose, não lhe restando mais do que uma esperança de vida mediana de 4 anos. Chocante como esta notícia fora para os seus milhares de fãs, demonstrou também uma força e um optimismo que o fizeram ganhar a admiração e respeito de muitos. Batalhou contra a doença e chamou a atenção de muitos para as vítimas, não só de Amiloidose, como doenças terminais.

O seu blog tornou-se o lugar não só de constantes actualizações sobre a evolução da saga, mas um local onde todos puderam observar um fenómeno único, o de um escritor, mas acima de tudo, um homem, narrando a sua luta contra o fim inevitável, apoiado e encorajado por milhares de pessoas que partilharam a sua dor por uma morte anunciada e prematura.

Robert Jordan, pseudónimo de James Rigney Jr, enfrentara anteriormente muitas vezes a morte. Um soldado veterano, serviu duas vezes na guerra do Vietname, recebendo muitas honras e condecorações. Após regressar à sua terra natal, a Charleston na Carolina do Sul, licenciou-se em Física e trabalhou para a Marinha como engenheiro nuclear.

Começou a escrever em 1977 e inicialmente ganhou alguma notoriedade como autor de novas histórias de Conan, o Bárbaro. Mas foi no início da década de noventa que se lançou no seu projecto mais ambicioso, a série de fantasia, A Roda do Tempo (The Wheel of Time). O primeiro volume, O Olho do Mundo (The Eye of the World) foi publicado em 1990 e a série tinha sido concebida inicialmente como uma trilogia, mas Jordan decidiu dar novos rumos ao arco principal da história e assim se tornou uma obra de magnitude épica, ampliada para 12 volumes.

Com o passar da década, e com a publicação subsequente dos outros volumes, conquistou muitos leitores leais e uma base internacional de fãs que crescia a cada dia que passava, tornando-se um fenómeno de culto. Para consternação de muitos, a saga não estava completa aquando a morte do autor. Robert Jordan encontrava-se a trabalhar no volume final, A Memory of Light, mas tomou previdências para que o livro pudesse ser completado da forma como sempre quis. Muitos suspeitam, embora ainda não haja confirmação oficial, de que a sua mulher e editora, Harriet, terminará o 12º volume no seu lugar.

Independentemente das opiniões sobre o rumo que tomava A Roda do Tempo, tornou-se uma das vozes indisputáveis do género da fantasia épica e o seu sucesso abriu o caminho para a publicação e consagração de muitos outros autores norte-americanos.

A sua morte foi bastante sentida entre a comunidade de literatura fantástica, a julgar pela quantidade de escritores, leitores e editores que decidiram prestar-lhe uma homenagem e reconhecer o seu contributo para a fantasia, como Neil Gaiman, George R. R. Martin, entre muitos outros.

Em Portugal, Robert Jordan foi publicado pela primeira vez em Junho de 2007, pela editora Bertrand. O primeiro volume, O Olho do Mundo, encontra-se disponível nas livrarias portuguesas, estando prevista a publicação de mais três volumes, A Grande Caçada, O Dragão Renascido e A Sombra Alastra.

Site e blog oficial do autor

Títulos publicados em Portugal:

O Olho do Mundo, Bertrand

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