Tudo começou com um post no blogue do escritor galês Rhys Hughes. Nele, Rhys relembrava a invenção da autoria de Brian Aldiss, o género literário que ficou conhecido como as mini-sagas. A popularidade do género acabou por ocasionar um concurso de mini-sagas, nos anos 80, no jornal britânico Telegraph Sunday Magazine. Posteriormente, foram publicadas ao longo dos anos várias colectâneas editadas por Brian Aldiss sob o nome Mini-Sagas.

O esquema é muito simples. Uma história com princípio, meio e fim contada em exactamente cinquenta palavras. Sem o título incluído. Nas palavras do livro, Brevity is the soul of wit – and a mini-saga is the soul of brevity. A story of just fifty words, with a beginning, a middle and an end. Not just that, but a story that instantly captivates the reader with dreams and disasters, fantasies and fears, loves and hates, humour, morality, immorality, the everyday and the extraordinary. (Brevidade é a alma da sabedoria – e uma mini-saga é a alma da brevidade. Uma história de apenas cinquenta palavras, com um princípio, meio e fim. Não apenas isso, mas uma história que instantaneamente cativa o leitor com sonhos e desastres, fantasias e medos, amores e ódios, humor, moralidade, imoralidade, o quotidiano e o extraordinário).
Conversa puxa conversa, foi lançado o repto na lista de discussão da Yahoo dedicada a Ficção Científica portuguesa: um concurso de mini-sagas promovido por Luís Rodrigues cujo prémio consistiria num exemplar autografado de A Transformação de Martin Lake & Outras Histórias de Jeff Vandermeer. Os interessados teriam só cerca de três dias para provarem o que valem, até ao dia do lançamento do livro de Jeff Vandermeer a 24 de Julho.
Estabelecido o prazo, durante cerca de três dias a mailing-list foi recebendo um conjunto de mini-sagas, tanto do Brasil como Portugal. Humorísticos, sarcásticos ou irónicos, apocalípticos, viu-se um pouco de tudo. E ontem foi finalmente anunciado o vencedor, assim como várias menções honrosas. A Épica, atenta à qualidade de escrita dos participantes, ofereceu-se para publicar no site as mini-sagas premiadas. São elas cinco. Espero que gostem.
Mini-saga vencedora da autoria de Gabriel Boz
Gabriel Boz, natural do Brasil, tem-se distinguido por entre o fandom brasileiro pela sua actividade de escritor e divulgador de ficção científica. Participa, juntamente com outras colegas, na revista electrónica Desfolhar, onde assina uma coluna dedicada a literatura fantástica. A revista aceita submissões de contos e poesia e estão abertos a participações portuguesas.
Cocôboros
Ao visitar o Museu de História Natural, deparou-se com as fezes fossilizadas de um dinossauro. Decidiu que não gostava de museus. Só mostravam porcarias sem vida. Resolveu construir uma máquina no tempo. Ao visitar o Jurássico, acabou devorado por um Tiranossauro Rex. Hoje, está exposto no Museu de História Natural.
Menções Honrosas
Tiago Gama tem-se destacado pela sua actividade de editor, juntamente com Telmo Pinto, do fanzine Phantastes. O Tiago recentemente anunciou o lançamento do 2º número do fanzine que inclui participações de Deborah Valentine, Alberto Figueiredo, Telmo Marçal, João Ventura e Gavin Sodo, entre outros.
Que Vergonha
De repente, o edifício começou a abanar fortemente; daí até se encontrar soterrada pelos escombros não decorreu muito, esperando por ajuda que não chegaria. A sul, novo choque para a comunidade internacional: “ovelha escapa milagrosamente a rocket terrorista!”. Que bom ter cobertura internacional para mostrar o verdadeiro horror da guerra.
João Ventura é já um nome conhecido na ficção especulativa portuguesa. Autor de numerosos contos e mini-contos, recentemente internacionalizou-se com a publicação de um conto na Universe Pathways, a edição inglesa de uma magazine grega especializada em ficção científica, fantasia e horror. Os interessados em continuarem a desfrutar do trabalho de João Ventura, podem continuar a fazê-lo através do seu blogue.
Recebeu nada menos do que 3 menções honrosas.
Reflexão sobre a carestia da escrita
Precisava de umas palavras para acabar o conto. Fui ao mercado. O governo devia ter mão nisto! Tudo caríssimo! Substantivos, adjectivos… um roubo! E os verbos? Passados, presentes, vá lá, mas os futuros!!!
“Sabe, os futuros andam muito incertos”, justificou-se, profissional, o vendedor. “Embrulho?”
“Não, obrigado, é para escrever já.”
História trágico-cósmico-fronteiriça
Quando chegou ao fim do universo, o astronauta rejubilou: afinal era finito! Mas a natureza tem horror ao vazio; encostado ao universo havia outro. E o pessoal do SEF exigiu-lhe visto para entrar. Regressou, humilhado, e fez-se funcionário público. Carimbava os vistos aos turistas que queriam visitar o universo vizinho…
Entre a insustentável leveza e o irremediável peso das palavras, a
frustração do escritor perfeccionista
Escreveu com palavras leves. O conto escapou-lhe das mãos e subiu rapidamente no ar até se perder de vista. Recomeçou, usando palavras pesadas. O conto escorregou da folha de papel e afundou-se, irremediavelmente perdido. Quando, persistente, acabou o terceiro, com palavras de densidade apropriada, já o prazo tinha sido ultrapassado.
Read Full Post »