As águas da ficção portuguesa agitam-se e, para os mais desatentos, chama-se a atenção para dois romances portugueses de ficção especulativa. A lufada de ar fresco chega até nós através de dois jornalistas de posturas e vozes bem distintas.
Hugo Gonçalves, jornalista colaborador de publicações tão diversas como Diário Económico, Diário de Notícias, revistas Elle, Egoísta e Visão, publicou em 2004 o seu primeiro romance O Maior Espectáculo do Mundo, dado à estampa pela Oficina do Livro. Em 2006, seguiu-se O Coração dos Homens, onde não se deixa de notar influências do escritor Chuck Palahniuk numa narrativa visceral em que os homens são confrontados com a sua própria violência e brutalidade.
Todas as mulheres são expulsas de uma Cidade-Estado, as suas memórias apagadas. Um grupo de amigos – Ele, Mau e Grande – cresce nesse universo exclusivo de homens em que o pugilismo se tornou no desporto nacional, a força física uma qualidade e as emoções um sinal de fraqueza. Eles atravessam a decadência da Cidade nas suas motos, procurando o perigo e as lutas de rua. Mas um dia enfrentarão o resto do mundo, as mulheres, e terão de confrontar-se com a brutalidade da sua própria natureza. O coração dos homens vai ao fundo da amizade masculina, fala da contenção dos sentimentos, da solidão, dos impulsos sexuais e do corpo como único instrumento de prazer.
Num registo diverso, marcado por história alternativa, Frederico Duarte Carvalho, natural do Porto, jornalista do Tal & Qual e autor de vários livros como Vítor Baptista – O Maior e Eu sei que Você Sabe, propõe em Abril Sangrento uma versão histórica alternativa aos acontecimentos que rodearam a revolução dos Cravos e as circunstâncias políticas que se seguiram – Como seria o Portugal de hoje se no 25 de Abril tivesse havido um banho de sangue?
Uma abordagem invulgar dos acontecimentos em que o jornalista pretende questionar a democracia actual e denunciar a classe política e jornalística vigente.
Hugo Gonçalves, O Coração dos Homens, Oficina do Livro, 15€
Frederico Duarte Carvalho, Abril Sangrento, Polvo, 10,90€
Épica, Associação Portuguesa do Fantástico nas Artes 