Um leitor atento não poderá deixar de notar o número crescente de incursões de grandes romancistas pelo território fértil do fantástico. Autores não habituados a explorar os sub-géneros da ficção científica, história alternativa, realismo mágico, horror ou outros, têm vindo sucessivamente a escolher a vitalidade e frescura desse campo como placo para as suas ficções. Seria interessante interrogar o porquê dessa opção, fruto talvez das ilimitadas possibilidades abertas pela literatura fantástica.

Escritores como Michael Cunningham, com o seu romance Dias Exemplares (sobre este autor, consultar um artigo da minha autoria aqui), ou Bret Easton Ellis com Lunar Park, ou mesmo Kazuo Ishiguro com Nunca me Deixes são bons exemplos dessa tendência que se tem vindo a observar nos últimos anos.
A Conspiração Contra a América foi outro livro que se destacou em 2004, da autoria do judeu norte-americano Philip Roth. O facto de ser judeu poderia ser irrelevante, não fosse um factor importante na biografia do escritor e um elemento fundamental presente nos seus livros. Filho de um austro-húngaro judeu imigrante, cresceu em Newark, New Jersey, e mais tarde continuou os estudos em Chicago, onde viria a conhecer o seu mentor, Saul Bellow.
Em 1959, Philip Roth alcançou a fama com o seu primeiro romance Goodbye, Colombus, a descrição da vida de uma família judia da classe média, vencedor do National Book Award. No entanto, foi com Portnoy’s Complaint, publicado dez anos depois, que Roth estabeleceu a sua reputação. O romance, acusado por muitos de sexualmente explícito e ofensivo, representa muito o estilo que Roth viria a a adoptar posteriormente, definido como agressivo, mordaz e controverso, granjeando-lhe inúmeros prémios ao longo das décadas.
A Conspiração Contra a América, vencedor do Sidewise Award for Alternate History, parte da premissa O que teria acontecido nos EUA e no mundo se o célebre aviador de ideias anti-semitas Charles Lindbergh se tivesse apresentado às eleições em 1940 e tivesse derrotado Franklin Roosevelt?
Construindo um relato ficcional em torno da sua própria família, Roth descreve o que representou para si e para milhares de americanos a ameaçadora administração Lindbergh. Na luta pela sobrevivência numa América fascista, são retratadas, de forma polémica, figuras históricas políticas decisivas nos EU, durante os anos da Guerra Mundial. Apesar da veemente recusa de Philip Roth em elaborar paralelismos com a actual situação política norte-americana, muitos consideram o livro como forma de protesto pela actuação política da administração Bush contra minorias étnicas.
Uma forte mensagem de consciencialização social e política apresentada por Philip Roth aos seus leitores, agora acessível em Portugal, com chancela da editora D. Quixote.
Dom Quixote – P.V.P.: 21euros
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