A Cavalo de Ferro tem vindo a manter uma linha editorial de qualidade e diversidade que caracteriza muitas das suas publicações. A escolha dos seus autores internacionais veio agora recair nas obras do escritor italiano Dino Buzzati.
Nascido em 1906 na cidade de Belluno, filho de um professor, fez os seus estudos em direito até ingressar no jornal Corriere della Sera onde permaneceria até à sua morte em 1972.
Mas Buzzati exprimiu-se muito mais para além da sua actividade jornalística. Um verdadeiro homem da Renascença, as suas paixões foram muitas, e foi na poesia, no romance, na música e na pintura que encontrou a sua voz de homenagem às paisagens italianas da sua infância e ao mundo onde a arte impregna todas as coisas. A sua experiência como correspondente de guerra no Norte de África e Sicília permitiu-lhe também uma nova consciência da angústia que permeia toda a existência humana.
As suas obras são geralmente incluídas na literatura fantástica e abordam temáticas que procuram lidar com as interrogações humanas face à vida e à morte. O onírico que povoa muitos dos seus contos reflectem muito do surreal e absurdo que invadem o labirinto da vida. Influenciado em parte por Franz Kafka, nos seus escritos encontramos a impotência humana face ao incompreensível, a solidão, a inquietude existencial, mas também um jogo de sentimentos em que operam a ironia e o sentido de humor, criando um efeito de surpresa no leitor e fazendo-o reflectir sobre a sociedade e o Homem.
Autor de numerosos ensaios, críticas e romances, em Portugal viu três das suas obras publicadas pela Cavalo de Ferro, sendo a primeira a sua obra-prima, O Deserto dos Tártaros (Il Deserto dei Tartari). É considerada pela crítica como um dos melhores livros de literatura internacional, tendo sido já adaptado para o cinema com interpretações de Vittorio Gassman e Phillipe Noiret.
Giovanni Drogo, recém-nomeado oficial, aproxima-se do seu destino, a fortaleza Bastiani, com um indefinível pressentimento de que algo na sua vida o conduz a uma total solidão. A fortaleza, enorme, amarela, situada nos limites do deserto, outrora reino dos míticos Tártaros, acolhe-o na sua misteriosa imponência. O tenente Drogo é contaminado pelo clima heróico de avidez de glória, que parece petrificar, numa espera perene, oficiais e soldados. Todos esperam os inimigos que um dia virão do Norte…
A esta alegoria da condição humana, seguiu-se a publicação de uma colectânea de dezanove contos do autor com o título Os Sete Mensageiros (I Sette Messageri).
Composto por dezanove contos, Os sete Mensageiros contém todos os elementos típicos da complexa poética buzzatiana: a sua visão labiríntica do mundo, a percepção constante do Bem e do Mal, a atenção dedicada às relações secretas entre as coisas. Os protagonistas das suas histórias são pessoas normais que, confrontadas com o fantástico, deslizam de forma natural para dentro deste, encontrando-se face a face com o sentido da sua própria existência.
Este mês foi publicado O Segredo do Bosque Velho (Il segreto del bosco vecchio), também já adaptado para o cinema, em 1993, pelo cineasta italiano Ermanno Olmi.
O coronel Sebastiano Procolo herda do seu tio parte do Bosque Velho: lugar mágico, habitado por génios, espíritos e forças ocultas com o poder de se transformarem em animais ou homens. Indiferente a esta natureza idílica o coronel tem planos bastante mais práticos para rentabilizar a sua herança, desencadeando uma guerra que diluirá as fronteiras entre o bem e o mal, contaminando a realidade de elementos fantásticos.
Dino Buzzati nunca se considerou como um escritor, apenas como um jornalista, mas o seu legado, agora mais vivo do que nunca, presenteia-nos com uma obra intemporal e consagra-o para a posteridade como um dos mais surpreendentes escritores contemporâneos.
O Deserto dos Tártaros, Cavalo de Ferro, P.V.P.: 14,40€
Os Sete Mensageiros, Cavalo de Ferro, P.V.P.: 15.50€
O Segredo do Bosque Velho, Cavalo de Ferro, P.V.P.: 15.20€
Read Full Post »