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Archive for Agosto, 2005

Farther west than west, beyond the land,
My people are dancing on the other wind.

A autora norte-americana Ursula K. Le Guin pertence hoje, sem contestação, ao panteão de escritores mais notáveis da literatura fantástica, tendo já transgredido as fronteiras do género e obtido reconhecimento literário e académico. O conjunto da sua obra revela uma inigualável mestria tanto no género da fantasia, como Ficção Científica.

Foi a sua saga Terramar – Earthsea a obra de fantasia que lhe conquistou admiração incondicional por parte do público leitor. É uma das suas mais adoradas criações e, embora inicialmente concebida para um público juvenil, tornou-se parte do imaginário popular fantástico e fonte de influência para inúmeros escritores.
Há um forte sentido do real criado nos livros, que perpassa por toda a magia, criando uma atmosfera única, sendo essa capacidade de verosimilhança uma das qualidades da saga mais realçada.

Concebida inicialmente como uma trilogia, publicada nos anos 70, A Wizard of Earthsea – O Feiticeiro e a Sombra, The Tombs of Atuan – Os Túmulos de Atuan e The Farthest Shore – A Praia mais Longínqua contam a história de um mundo onde a magia reside na Fala da Criação, a fala dos dragões, e onde os verdadeiros nomes não devem ser pronunciados. Os feiticeiros são indivíduos que aprendem um limitado domínio sobre essa linguagem, sempre cientes de que os seus actos de magia podem interferir no equilíbrio do mundo.

Ursula Le Guin conta, em especial, a história do feiticeiro Ged, desde a sua infância e maioridade, até atingir o estatuto de Arquimago de Terramar, já um velho sábio.
As aventuras de Ged nunca se limitam a meras acções heróicas, mas consistem em etapas marcantes que o ensinam a lidar com o seu poder e o mundo que o rodeia, um percurso de aprendizagem que vai desde a adolescência arrogante e orgulhosa, passando pela escuridão do mundo subterrâneo onde encontra a luz, indo os seus passos de encontro ao mundo das Sombras onde é forçado a suportar a prova mais cruel de todas.

Vinte anos mais tarde, a autora sentiu que ainda havia mais por contar e voltou a dar-nos notícias do mundo de Terramar. O 4º volume – Tehanu – marca uma viragem dentro da ficção que reflecte as próprias posições sociais da autora. É um volume não menos complexo ou subtil, mas o que observamos de heróico na trilogia, passa a adquirir uma faceta mais humana. A autora põe em causa muita da mitologia de Terramar e as suas personagens, sem nenhuma caracterização especialmente épica e heróica, ofertando-nos apenas um forte relato emocional centrado nas mulheres e na sua força e poder face à adversidade.

Posteriormente, surgiu uma colectânea de histórias – Tales from Earthsea (sem tradução disponível em português) – que preenche muitas das lacunas deixadas pela autora e servem de ponte entre Tehanu e o último volume – The Other Wind – publicado em 2001 e agora traduzido pela Presença sob o título, Num Vento Diferente.

Earthsea

A história começa com Alder, um feiticeiro humilde que procura a casa de Ged, nas montanhas de Gont. Alder é um homem atormentado pelos seus pesadelos de mortos que lhe imploram para que os salve da terra árida e desolada onde é seu destino passar a eternidade. Aterrorizado pela situação e pelo espírito da mulher que não está em paz, procura pela sabedoria do outrora Arquimago e confidencia-lhe os seus medos.

O Ged deste livro é um Ged que atingiu paz interior e já só irá jogar um papel secundário no desenvolvimento dos eventos. Apesar de não ter nenhuma solução para oferecer a Alder, pressente a importância dos sonhos e aconselha-o a ir de encontro ao rei Lebannen.

Na cidade de Havnor, encontra-se o rei, juntamente com Tenar e Tehanu. Lebannen recebe notícias perturbantes de que os dragões quebraram a promessa de habitar no Ocidente e invadiram terras habitadas pelos humanos, semeando o caos.

Com as notícias de Alder, juntamente com outras lendas e histórias relembradas, apercebem-se de que um grave desequilíbrio tomou conta do mundo de Earthsea, de alguma forma relacionado com a terra dos mortos. De modo a decifrar o enigma, todas as personagens ir-se-ão reunir na ilha de Roke, o centro do poder, e procurar desvendar a verdade que acabará por transformar os seus mundos para sempre.

No plano das personagens, uma interessa-nos particularmente pelo que ela própria é e poderá vir a ser, Tehanu. A criança cresceu e agora tornou-se uma jovem rapariga tímida e sempre a procurar refúgio em Tenar. O seu poder esconde-se por trás da sua aparente fragilidade, mas isso não a impedirá de cumprir o seu destino, para grande mágoa da sua mãe adoptiva.

São muitas as alusões nostálgicas aos quatro primeiros livros, desta vez exprimindo-se por várias vozes narrativas que constantemente evocam antigas memórias e se interrogam sobre o futuro. Todas as suas concepções sobre o mundo serão desafiadas e as próprias fundações da magia humana serão abaladas.

A questão da mortalidade e imortalidade ainda continua presente, já abordada no terceiro livro, e a capacidade de Alder para consertar aquilo que foi quebrado, irá para sempre mudar a face de Terramar. A mudança e necessidade por mudança é outra das qualidades essenciais da obra; uma mudança que restaura o equilíbrio através da união dos opostos, a união entre homem e mulher, humanos e dragões, vida e morte.

A sintonia entre o plano épico e o plano humano atinge um nível extraodinário e comovedor, e o final apoteótico em nada estraga a coerência do mundo, antes expande-lhe as fronteiras, encerrando com chave de ouro a saga.
Assim os admiradores de Terramar irão encontrar um livro mais profundo, imbuído de uma filosofia muito própria presente em cada diálogo e em cada descrição, e que consagra, uma vez mais, uma excelente contadora de histórias.

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Nunca me Deixes

A editora Gradiva acaba de publicar Nunca me Deixes – Never Let me Go do escritor britânico, de ascendência japonesa, Kazuo Ishiguro.

Ishiguro

Kazuo Ishiguro nasceu em Nagasaki, no Japão, tendo aos 6 anos imigrado para a Grã-Bretanha. Frequentou a Universidade de Kent e publicou o seu primeiro romance em 1982, A Pale View of Hills, o relato de uma viúva japonesa, assombrado pela destruição de Nagasaki.
Foi, contudo, com o seu terceiro romance, Os Despojos do Dia – The Remains of the Day, o retrato psicológico de um mordomo inglês com uma vida inteira dedicada ao serviço, entregue às suas memórias no meio da guerra e a ascensão do fascismo, que Kazuo Ishiguro obteve reconhecimento internacional, assim como, o prestigiado Booker Prize.

O seu último romance – Never Let me Go – explora novos campos de ficção dentro da sua obra, na medida em que realiza uma abordagem semi-ficção científica. O enredo decorre numa Inglaterra distópica onde são abordados certos temas científico-ficcionais, mas longe de enveredar por um caminho de especulação típico em romances de FC, a narrativa acaba por se centrar num perturbante retrato emocional e intimista que, lentamente, revela verdades ocultas.

Nas palavras da sinopse, Nunca Me Deixes é um romance profundamente comovedor, atravessado por uma percepção singular da fragilidade da vida humana.

O novo romance de Ishiguro é já considerado uma das melhores e mais revigorantes obras de ficção a serem publicadas em 2005.

Gradiva – P.V.P.: 17euros

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1964 assistiu ao lançamento de um livro de literatura infanto-juvenil, Charlie and the Chocolate Factory, da autoria do britânico, de ascendência norueguesa, Roald Dahl.
A história gira em torno de um excêntrico proprietário de uma fábrica de chocolates – Willy Wonka – e o seu regresso à luz da ribalta, após um longo interregno de silêncio e clausura.

Wonka proporciona a possibilidade a cinco crianças, as felizardas contempladas com o bilhete dourado, de realizarem uma visita guiada à fábrica, desvendando todos os segredos por trás da produção dos deliciosos chocolates Willy Wonka. Um rapaz destaca-se especialmente, Charlie Bucket, que vive numa pobre e desolada casa com os seus pais e quatro avós.

Durante a visita, é-nos dado a conhecer os intrigantes Oompa-loompas, anões oriundos da Oompalândia, e os únicos com acesso à fábrica de chocolates. Aparentemente inofensivos, são as suas canções que denunciam o comportamento das crianças e pais, e as vão testando ao longo da visita. A história, ainda que acabe por encerrar um fundo moralista, não é desprovida de um tom negro e perturbante, tão característico dos contos moralistas para crianças.

Já realizada uma adaptação cinematográfica em 1971, por Mel Stuart, com Gene Wilder no papel de Willy Wonka, eis que o remake surge entre nós pelas mãos de Tim Burton, estreado nas salas nacionais no dia 11 de Agosto.

A estreia de um filme de Burton é sempre um acontecimento cinematográfico. O realizador tornou-se o ícone de uma certa expressão de cinema negro e sombrio, bizarro e tresloucado. Uma adolescência obcecada pelo gótico e o horror apenas acentuaram ainda mais as suas qualidades imaginativas e moldaram aquela que viria a ser a sua imagem de marca – o fascínio pelo bizarro e fantasioso, envolvido em cenários visualmente apelativos.

Tim Burton

Filmes como Beetlejuice, Eduardo Mãos de Tesoura, ou mais recentemente, Sleepy Hollow e Big Fish recriam um imaginário único e povoado de uma sensibilidade para tudo aquilo que habita nos recônditos marginais da mente humana. Até mesmo Batman não é livre da marca de Burton na caracterização de Gotham City e respectivas personagens.

No seu filme mais recente, Charlie and the Chocolate Factory, assistimos à sua quarta colaboração com Johnny Depp, um dos actores mais notados na última década pela sua versatilidade e capacidade em assumir papéis excêntricos.

Ainda que o filme seja predominantemente fiel à obra de Roald Dahl, o Willie Wonka de Burton teve um background muito mais desenvolvido, de forma a que assistimos a vários flashbacks que narram episódios da sua infância, filho de um pai dentista, e o seu atribulado início no mundo dos chocolates.

Depp confere, em medida equilibrada, a dose certa de excentricidade e infantilidade, pontuada pela memórias de um passado triste. A palavra certa para descrevê-lo será, talvez, patético. Um palhaço triste.
Mas isso não o impede de exercer uma boa dose de sarcasmo por sobre cada uma das crianças repelentes e petulantes que visitam a sua fábrica, incluindo os seus pais. À excepção de Charlie, as crianças irão aprender uma lição em boa educação que tão cedo não irão esquecer.

O ponto alto da excentricidade do filme reside, certamente, nos Oompa-Loompas, a cargo do actor Deep Roy. As canções incisivas , as suas múltiplas funções dentro da fábrica e as suas danças servem de excelente suporte secundário e proporcionam alguns dos momentos mais interessantes do filme, como a homenagem a 2001, Odisseia no Espaço, uma cena impagável de riso.

Freddie Highmore, a revelação de Finding Neverland, recomendada por Depp a Tim Burton, consegue comover como Charlie Bucket, o rapazinho livre dos vícios de uma educação demasiado mimada. Com a medida certa de seriedade e adoração por chocolates, Charlie ensina a Willie Wonka que o mais importante é o amor pela família.
Uma história aparentemente juvenil e moralista, mas que, por trás dessa aparência, esconde certos elementos perturbantes e que fazem o espectador pensar.

O próximo trabalho de Tim Burton tambem é aguardado com expectativas elevadas, a animação The Corpse Bride, prevista ainda para o ano 2005.

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The Passion of New Eve

Angela Carter
The Passion of New Eve

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A editora Saída de Emergência publicou recentemente um dos clássicos da ficção científica de humor, sendo o escolhido Douglas Adams e a sua aclamada série The Hitchikers Guide to the Galaxy.

Douglas Adams

Segundos antes da Terra ser destruída para dar lugar a uma auto-estrada intergaláctica, o jovem Arthur Dente é salvo pelo seu amigo Ford Prefect, um alienígena disfarçado de actor desempregado. Juntos, viajam pelo espaço na companhia do presidente da galáxia (ex-hippie, com 2 cabeças e 3 braços), Marvin (robot paranóico com depressão aguda), e Veet Voojagig (antigo estudante obcecado com todas as canetas que comprou ao longo dos anos).

Inicialmente concebida como uma transmissão radiofónica da BBC, emitida em 1978, o sucesso da emissão deu origem ao que viria a ser uma trilogia de cinco, composta pelos títulos The Hitchiker’s Guide to the Galaxy; The Restaurant at the End of the Universe; Life, the Universe and Everything; So Long and Thanks for All the Fish e Mostly Harmless.

O sucesso foi tal que, por altura da morte prematura do autor britânico, em 2001, a série já vendera mais de quinze milhões de cópias.

Tendo já sido editado, nos anos 80, pela Difel, encontra-se agora disponível, em português, a reedição do primeiro volume, sob o título À Boleia pela Galáxia.

Editora Saída de Emergência, P.V.P: 14.36 euros.

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