No passado dia 18, foi apresentado na FNAC CHIADO o lançamento da edição portuguesa do romance de Alan Moore, A Voz do Fogo (Voice of the Fire).
Numa apresentação em que participou o autor David Soares, o tradutor desta obra, João Miguel Lameiras, crítico de BD, e o editor Luís Corte Real, a Saída de Emergência junta assim à sua colecção de literatura fantástica o nome de Alan Moore, uma fígura ímpar na ficção especulativa e já de proporções míticas no mundo da nona arte.
O nome de Alan Moore tem sido constantemente trazido à ribalta nos últimos anos. É considerado o mais importante e influente argumentista de BD, conferindo a esta arte uma nova sensibilidade adulta e uma erudição pautada por excelência e rigor. As suas novelas gráficas são objecto de desejo das maiores indústrias cinematográficas, mas a sua personalidade e princípios artísticos têm muitas vezes chocado com a postura mais comercial de editoras e estúdios de Hollywood. A sua mais recente obra adaptada para cinema, V For Vendetta, trouxe-lhe vários dissabores e complicações jurídicas, financeiras e legais. No fim, optou por exigir que retirassem o seu nome dos créditos do filme.
Começou a sua carreira em finais dos anos 70 como cartonista e cedo foi-lhe oferecida a oportunidade de colaborar para o comic 2000 AD, um das mais importantes peças britânicas em comics a surgir naquele tempo e para o qual escreveu o aclamado The Ballad of Halo Jones. Não tardou muito para que através da Marvel UK, recriasse personagens como Marvelman e Captain Britain.
A sua colaboração com a magazine britânica Warrior é talvez o primeiro passo que Moore deu em direcção a uma completa ruptura com tudo o que já tinha sido feito antes sobre a temática dos super-heróis. Para além de Marvelman, foi nesse tempo que Moore se dedicou a V for Vendetta, a história de um anarquista mascarado que pretende destronar o governo britânico totalitário reinante.
O seu contributo para 2000 AD e a Marvel UK captou as atenções da indústria americana e a DC Comics ofereceu-lhe o trabalho The Saga of the Swamp Thing, um título que se revelara inicialmente um fracasso, mas que com o talento artístico de Moore, tornou-se uma das obras mais bem sucedidos da DC Comics, rejuvenescendo a banda desenhada no género de horror. É nesta fase que cria também a personagem de John Constantine que teve direito à sua própria série, Hellblazer. Muitas das suas histórias conferiram um novo fôlego a super-heróis banalizados pela indústria em geral, como Batman e Superman.
Mas está para além de quaisquer dúvidas que o trabalho mais importante de Alan Moore realizado para a DC Comics foi Watchmen. Quando Watchmen foi finalizado, tinha sido criado não apenas uma obra que descobriu novos territórios na nona arte, mas um monumento literário sem falhas. Em conjunto com a arte rigorosa e complexa de Dave Gibbons, Moore desenvolveu a história de um grupo de heróis mascarados em luta contra o crime que em nada se assemelham ao convencional grupo de heróis; têm neuroses, esgotamentos nervosos, falhas de carácter, os seus próprios princípios dúbios de justiça e liberdade. Carregada de simbolismo e de um forte comentário social e político, a novela gráfica foi a primeira a vencer um prémio Hugo e a primeira a dar entrada na lista da Time dos cem romances mais importantes do séc. XX. Encontra-se actualmente em vias de ser adaptada para o cinema, com realização de Zack Snyder.
Atingindo um ponto em que já tinha dito tudo o que havia a dizer sobre super-heróis, e também cansado das crescentes fricções com a DC Comics, começou um novo conjunto de trabalhos independentes, como From Hell, um relato ficcional, embora sugira uma pesquisa profunda e detalhada, sobre Jack, o Estripador. Posteriormente, criou a ABC (America’s Best Comics) que deu à estampa trabalhos como Promethea e A Liga dos Cavalheiros Extraordinários, já com dois volumes publicados. O terceiro, The Black Dossier, é esperado para o Inverno de 2006. A ABC foi vendida à DC Comics, criando novos dissabores a Moore, relutante em trabalhar de novo para a editora. Nos últimos anos, constantes disputas pelo controlo das suas obras só têm aumentado a sua aversão pelas companhias mainstream.
O seu último trabalho, ainda nem posto à venda e já ladeado de imensa controvérsia, foi feito em parceria com a sua companheira Melinda Gebbie, Lost Girls. Pegando em três personagens femininas já conhecidas do público, Wendy de Peter Pan, Dorothy do Feiticeiro de Oz e Alice do País das Maravilhas, Moore descreve o encontro das personagens antes da I Grande Guerra, iniciando um relato sexualmente explícito em torno destas três mulheres. A novela gráfica irá ser apresentada pela editora Top Shelf este próximo fim de semana na Comic Con de San Diego, a maior convenção de banda desenhada (e não só) dos EUA.
Um homem de inesgotável capacidade artística, os seus interesses não se limitaram à banda desenhada e aventurou-se também pelos campos da música e o romance.
A Voz do Fogo é precisamente o romance de estreia de Alan Moore, embora já tenha muitos créditos como argumentista de BD. Publicado em 1996 no Reino Unido, o livro conta, nas palavras de David Soares, a história e as vidas que fizeram a cidade de Northampton, local de nascimento e residência do autor; uma narrativa épica plasmada num intervalo de tempo que compreende seis milénios. Da pré-história ao século XX, A Voz do Fogo queima como só a Verdade pode fazer.
Para mais informações e acesso a uma entrevista de Alan Moore, consultem o blogue de David Soares, O Sonho de Newton.
Títulos de Alan Moore publicados em português:
Batman – Piada Mortal, Devir
Catálogo Argumentos de Alan Moore, Devir/Sodilivros
A Liga dos Cavalheiros Extraordinários, vols. 1 e 2, Devir
A Voz do Fogo, Saída de Emergência
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